sábado, 1 de junho de 2019

HAJA RAIAS!


Acontecer na abertura do movimento infinito da VIDA
por meio de forças de corpos múltiplos fora da significação.
Luís Serguilha 

Foto de José Lorvão

O evento cultural RAIAS POÉTICAS 2019 | AFLUENTES IBERO-AFRO-AMERICANOS DE ARTES E PENSAMENTO reuniu meia centena de participantes em Vila Nova de Famalicão nos dias 23, 24 e 25 de Maio, com curadoria de Luís Serguilha. E porque de cultura se trata, desconstruamos algumas ramificações pensantes que aqui se revelaram para se perpetuarem na nossa memória. Porque o que é significativo constrói e desconstrói, para depois se construir de novo, é necessário fazer remanescer as sensações provocadoras de outras sensações, as quais irão contribuir para a ressonância de evidências das diversas faces/corpos da arte e do pensamento, através das RAIAS SONORAS (leitura de poemas pelos próprios autores) e das DOBRAS-de-PENSAMENTO (painéis de reflexão: tema, convidados e respectivo surfista/moderador).


As leituras que podemos extrair deste encontro onde se intersectam as artes e o pensamento conduzem-nos ao impensável através de um ritmo intensivo: a arte, a poesia, o teatro, a dança, a literatura e o pensamento movem-se, caem e levantam-se, precipitam-se na atmosfera densa da vida a acontecer. Luís Serguilha pretende «tornar sensíveis olhares, gestos, palavras, corpos, sim, libertar o cérebro por meio do estranho que nos atravessa: forças éticas afirmadoras da VIDA fazem variar o mundo! RAIAS!» E Luís Serguilha consegue reunir diferentes campos de forças tão amplamente energéticas que logo nos fortalecem depois de nos enfraquecer. Respirar, admitir multiplicidades de acções/lógicas/pensamentos, visões do inenarrável tornadas FALA SENSITIVA.

Se as RAIAS não se inscrevem numa cartografia linear e coerente é porque o caminho é outro e é intencional. A esse respeito, diz-nos Luís Serguilha:  «AS RAIAS não fazem parte dos festivais, não têm biografias, nem pertencem ao historicismo, não são competições, não há pódios, nem modelos, nem estruturas lógicas, sim, as RAIAS não buscam maiorias, nem rostos capturados pelas ideologias do sucesso, as RAIAS nunca estão prontas, são processos, metamorfoses activas, corpos intensivos... porque se fortalecem dentro de outra maneira de fazer vida, sim, são correntezas transmutadoras, são composições de potências-artistas, são multiplicidades que fazem coexistir várias dimensões de tempo, são diferenças que se reconstroem com diferenças. São pontos de vista que exaltam o pensamento: experimentar, singularizar no cristalino das heteronímias que abrem as forças do CORPO, desencadeando sensações, sim, as RAIAS são acontecimentos do acontecimento: RITMO que criva o caos e lança dados imprevisíveis: FAZER existir___RAIAS da ARTE onde em cada instante nos diferimos fora do reconhecimento!!!»

As potencialidades das seguintes linhas de reflexão colocaram os participantes à beira de um precipício cultural:
- O artista faz um pacto com a vida e com o pensamento: quebrar clichés!
- Escrever é tornar-se um bastardo, um traidor, um sintomatologista!
- O escritor produz uma língua fora da maioria: uma língua que atinge o sublime quando o escritor deixa de ser escritos: o agramatical!
- A Dança é um Poema em construção na ruptura das palavras.
- O Actor atinge o animal em si: é a força do corpo do poema: dobra, desdobra a voz, a palavra e o falso, diluindo os limites dos órgãos.

Estive presente, estivemos presentes, estamos juntos nesta caminhada de descoberta artística e pensante. Ver, ouvir, pensar, fazer amigos: conhecer, ressoar, desconstruir, ressignificar.

HAJA RAIAS de Norte a Sul!

Adília César, in Algarve Informativo Nº 204

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