«Sou poeta, um vaso
aberto a todas as águas».
Casimiro de Brito,
in catálogo da
Exposição Entre Mil Águas: Vida Literária de Casimiro de Brito, I FLIQ
Casimiro de
Brito foi o autor homenageado no I Festival Literário Internacional de
Querença, e foi nesse contexto de festa da cultura que o conheci, em agosto de
2016. Vi um homem jovial, comunicativo, atento aos pormenores e profundo
conhecedor dos diferentes cenários onde a Literatura se move – a escrita, a crítica,
a divulgação, o reconhecimento por parte dos outros. Vi a sua pose de poeta do
amor e da claridade. Ao mesmo tempo, tive a percepção de um homem simples,
demarcado das vaidades que poluem os guetos literários e possuidor de uma
apurada sensibilidade humana.
Casimiro de
Brito evidencia um produtivo interesse no âmbito do ‘haiku’ (tradução e
criação), sendo o seu trabalho muito apreciado no japão, traduzido em japonês,
premiado e homenageado, tendo recebido o prestigiado Prémio Mundial de Haikus
da World Haiku Association. A este respeito, diz-nos Zlatka Timenova, na sua
conferência apresentada por ocasião do FLIQ 2016 e registada no respectivo
catálogo do evento:
«A língua japonesa
favorece a ambiguidade, uma das características fundamentais do ‘haiku’. As
línguas europeias e o pensamento europeu não cultivam a ambiguidade, mas na
poesia temos uma tradição forte. O ‘haiku’ europeu é possível porque existe uma
consciência anterior à língua como instrumento. Assim, a beleza das cerejeiras
em flor corta a respiração dos japoneses e dos europeus da mesma maneira.
Porquê? Diz o Casimiro:
Não
sabemos se a terra está vazia
ou
cheia? estamos nus
no meio
do caminho»
(in
Através do ar, 2007)
Que mais nos
diz Casimiro sobre a intensidade das coisas belas, o amor, o erotismo, a mulher
amada? Deixo-vos cinco fragmentos do seu livro “Flor Interior”, editado pela
Eufeme em 2017:
1
Melhor
do que o vinho
tua flor
interior
para
amar me dobro
4
Olho
para a mulher
como se
tivesse sido cego
a vida
inteira
6
Mergulho
na voz dela
e nada –
vou em busca
das
águas profundas
15
Em
silêncio se abrem
a flor o
lago a boca
da minha
amada
24
Não sei
ler mas li
as
páginas do teu corpo
de olhos
fechados
(…)
Casimiro de
Brito é poeta, romancista, contista e ensaísta. Nasceu em Loulé, em 1938. Teve
várias profissões, mas presentemente dedica-se em exclusivo à literatura. Começou
a publicar em 1957 (Poemas da Solidão Imperfeita) e, desde então, publicou mais
de setenta títulos, em Portugal e em outras trinta línguas. Esteve ligado ao
movimento "Poesia 61", um dos marcos mais importantes da poesia
portuguesa do século XX. Colabora nas mais prestigiadas revistas de poesia e
tem obras suas incluídas em cerca de duzentas e quarenta antologias publicadas
em diversos países. Ganhou diversos prémios literários. Participou em inúmeros
recitais, festivais de poesia, congressos de escritores, conferências, um pouco
por todo o mundo. Foi fundador e vice-presidente da Associação Portuguesa de
Escritores. Foi fundador e presidente da direcção da Assembleia Geral do P.E.N.
Clube Português. Em 2006, foi nomeado Embaixador Mundial da Paz, no âmbito da
Embaixada Mundial da Paz, sediada em Genebra. Foi agraciado com a Ordem do
Infante pela Presidência da República. A sua poesia completa até 2000 vai ser
brevemente editada pela Imprensa Nacional.
Adília César
https://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__190
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