sábado, 16 de fevereiro de 2019

CASIMIRO DE BRITO - O Poeta do Amor


«Sou poeta, um vaso aberto a todas as águas».
Casimiro de Brito,
in catálogo da Exposição Entre Mil Águas: Vida Literária de Casimiro de Brito, I FLIQ

Casimiro de Brito foi o autor homenageado no I Festival Literário Internacional de Querença, e foi nesse contexto de festa da cultura que o conheci, em agosto de 2016. Vi um homem jovial, comunicativo, atento aos pormenores e profundo conhecedor dos diferentes cenários onde a Literatura se move – a escrita, a crítica, a divulgação, o reconhecimento por parte dos outros. Vi a sua pose de poeta do amor e da claridade. Ao mesmo tempo, tive a percepção de um homem simples, demarcado das vaidades que poluem os guetos literários e possuidor de uma apurada sensibilidade humana.


Casimiro de Brito evidencia um produtivo interesse no âmbito do ‘haiku’ (tradução e criação), sendo o seu trabalho muito apreciado no japão, traduzido em japonês, premiado e homenageado, tendo recebido o prestigiado Prémio Mundial de Haikus da World Haiku Association. A este respeito, diz-nos Zlatka Timenova, na sua conferência apresentada por ocasião do FLIQ 2016 e registada no respectivo catálogo do evento:

«A língua japonesa favorece a ambiguidade, uma das características fundamentais do ‘haiku’. As línguas europeias e o pensamento europeu não cultivam a ambiguidade, mas na poesia temos uma tradição forte. O ‘haiku’ europeu é possível porque existe uma consciência anterior à língua como instrumento. Assim, a beleza das cerejeiras em flor corta a respiração dos japoneses e dos europeus da mesma maneira. Porquê? Diz o Casimiro:

Não sabemos se a terra está vazia
ou cheia? estamos nus
no meio do caminho»
(in Através do ar, 2007)

Que mais nos diz Casimiro sobre a intensidade das coisas belas, o amor, o erotismo, a mulher amada? Deixo-vos cinco fragmentos do seu livro “Flor Interior”, editado pela Eufeme em 2017:


1
Melhor do que o vinho
tua flor interior
para amar me dobro

4
Olho para a mulher
como se tivesse sido cego
a vida inteira

6
Mergulho na voz dela
e nada – vou em busca
das águas profundas

15
Em silêncio se abrem
a flor o lago a boca
da minha amada

24
Não sei ler mas li
as páginas do teu corpo
de olhos fechados

(…)

Casimiro de Brito é poeta, romancista, contista e ensaísta. Nasceu em Loulé, em 1938. Teve várias profissões, mas presentemente dedica-se em exclusivo à literatura. Começou a publicar em 1957 (Poemas da Solidão Imperfeita) e, desde então, publicou mais de setenta títulos, em Portugal e em outras trinta línguas. Esteve ligado ao movimento "Poesia 61", um dos marcos mais importantes da poesia portuguesa do século XX. Colabora nas mais prestigiadas revistas de poesia e tem obras suas incluídas em cerca de duzentas e quarenta antologias publicadas em diversos países. Ganhou diversos prémios literários. Participou em inúmeros recitais, festivais de poesia, congressos de escritores, conferências, um pouco por todo o mundo. Foi fundador e vice-presidente da Associação Portuguesa de Escritores. Foi fundador e presidente da direcção da Assembleia Geral do P.E.N. Clube Português. Em 2006, foi nomeado Embaixador Mundial da Paz, no âmbito da Embaixada Mundial da Paz, sediada em Genebra. Foi agraciado com a Ordem do Infante pela Presidência da República. A sua poesia completa até 2000 vai ser brevemente editada pela Imprensa Nacional.


Adília César
https://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__190

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