Mudam-se
os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E enfim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E enfim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
*Soneto
de Luís Vaz de Camões
(Lisboa[?], 1524 — Lisboa, 10 de junho de 1579 ou 1580)
Desde há muito tempo que o dia 10 de junho está
conotado com um sentimento português de celebração. Em 1925 a I República proclamou-o
como Festa de Portugal. A mesma data foi seguida pelo Estado Novo,
elevando-a à categoria de feriado nacional em 1929. No entanto, só em 1952 é
que o dia passa a denominar-se como Dia de Portugal, uma vez que o
Estado Democrático instituído pelo 25 de abril de 1974 assim o entendeu. Desde
1987 que o dia 10 de junho se celebra como Dia de
Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. O facto de a
importância da data vir de longe é bastante original, sendo praticamente “caso
único” no mundo segundo a historiadora Maria Isabel João, lembrando que a “maioria esmagadora dos países do mundo escolhe uma data
que se relaciona com a fundação do Estado ou do regime político vigente”.
O Dia de Portugal personifica uma
identidade nacional enraizada na consciência dos portugueses. É um símbolo
histórico-cultural do povo, um valor abstracto validado por uma convenção, algo
que representa qualquer coisa para alguém, absolutamente essencial no processo
de comunicação no seio de uma comunidade. Os símbolos funcionam como sinais que
nos ajudam a chegar a um pensamento conceptual comum, neste caso, a assunção do
conceito de portugalidade que é diferente do portuguesismo.
Este último Dia de Portugal – 10 de junho
de 2020 – celebrou-se em plena pandemia de coronavírus, a qual não pode ser
ignorada. São tempos que vão ficar na história de toda a humanidade; estão a
ser escritos neste preciso momento, também aqui neste pequeno país. É uma
história que não sabemos como vai acabar. Quem dá voz aos tempos de inquietação
e receio? Somos portugueses e estamos juntos. Temos sol, mar e esperança. Somos
poetas e sabemos que o poema de Camões nos abre o caminho da resistência e da
cura, através da mudança. Temos opinião, somos declamadores de alma e coração,
e arranjamos sempre maneira de ficar tudo bem, encontrando soluções
criativas para os problemas de todos os dias.
Afinal, ser português é tudo valer a
pena porque a nossa alma não é pequena, é aguentarmos todas as mudanças,
ainda que pandémicas. Também não será um vírus que nos vai derrubar, porque ser
português é acreditar em tudo e duvidar de tudo. Entre a portugalidade e
o portuguesismo, o nosso instinto individual e colectivo vai encontrar o
caminho necessário à vida. E isso é Portugal.
Adília César
https://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__252
Sem comentários:
Enviar um comentário