As palavras escritas são imagens em movimento,
viajantes. Objectos com densidade e corpo. Lemos a palavra e vemos a imagem do
que ela significa. Pensamos sobre ela de imediato. Quando não sabemos o
significado de uma palavra, não temos imagem, é como se a palavra não
existisse, e não conseguimos pensar sobre ela. Por vezes, apesar de sabermos o
que a palavra significa, não gostamos da imagem que ela nos provoca. E
foge-nos, não a retemos na paisagem revelada pela leitura.
Em relação às pessoas, o processo é similar. Quando
olhamos uma pessoa e ela não tem imagem, porque a sua leitura/compreensão em
nada acrescenta à nossa interioridade, é como se essa pessoa não tivesse
direito à existência afectiva e real, pelo menos na nossa paisagem interior. É
uma não-pessoa. Este processo selectivo dos humanos que passam e ficam ou não
em nós, contribui para o nosso equilíbrio, para a nossa viabilidade como
mulheres e homens sãos e criativos.
O mesmo se passa com os autores e os livros que
lemos. Alguns desses autores e livros, ficam. Com eles viveremos o resto das
nossas vidas. Outros, banais ou medíocres, não. Passam por nós e desaparecem. É
um autor sem expressão que escreve um não-livro. Um divórcio estético.
Haja coragem para tomarmos as atitudes certas em
relação aos autores e aos livros que lemos. Nem tudo é bom (muito menos
"excelente" ou "extraordinário", como se apregoa com
frequência). Nem tudo é Arte. Então o que é Arte Literária?
Esta foi uma das reflexões que levou ao aparecimento
da Revista LÓGOS - Biblioteca do Tempo, através da iniciativa de Fernando
Esteves Pinto, Adília César e Adão Contreiras, que se assume como um ponto de
vista em relação àquilo que a Literatura deve ser - expressão artística. O
tempo será o juiz desta ousadia.
Adília César
Adília César
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